Entre os dias 12 e 15 de setembro de 2022, aconteceu em Natal-RN, o Genética 22 - 67th Brazilian Congress of Genetics. Este é o maior evento brasileiro da área com reconhecimento dentro e fora do país e é realizado pela Sociedade Brasileira de Genética (SBG). Na ocasião, além da programação técnica, o Congresso reconheceu o mérito dos pesquisadores, conferindo prêmios aos participantes e o Programa de Pós Graduação em Ciências Biológicas da Universidade Federal de Ouro Preto foi representado pelo pós-doutorando Gustavo Satoru Kajitani, ele recebeu Menção Honrosa no PRÊMIO JOVEM GENETICISTA 2022 - FRANCISCO MAURO SALZANO.
A pesquisa intitulada “Danos em DNA que bloqueiam polimerases - implicações na Síndrome de Cockayne.” é feita sob orientação da professora Camila Carrião Machado. Gustavo explica pontos importantes o trabalho: “Acho sempre interessante falar ao público que o DNA, apesar da importância que ele tem para a vida como conhecemos, é uma molécula que pode ser danificada, e esses danos podem ser provenientes tanto de fontes externas, como a irradiação UV presente na luz do sol, outros tipos de radiação, poluição, como também de fontes internas de nosso corpo, como as chamadas espécies reativas de oxigênio e alguns tipos de aldeído, que aparecem por conta do próprio metabolismo celular.”
De acordo com o pesquisador, para lidar com esses tipos de danos no DNA, as células possuem mecanismos de reparo de DNA, que consertam essa molécula tão importante e mantém nossa informação genética íntegra. Ainda segundo ele, a síndrome de Cockayne é uma doença genética (e, portanto, hereditária), em que os indivíduos não conseguem reparar certos tipos de danos no DNA, por conta de mutações em genes específicos (os genes CSA ou CSB). Devido à essa falta de reparo, esses indivíduos não só acumulam danos no DNA, como também ativam vias de sinalizações celulares anormais, muitas delas por conta de consequências do acúmulo de danos, como o bloqueio de proteínas responsáveis pela produção da transcrição, as RNA polimerases.
“Ainda estamos estudando exatamente quais são essas vias (é até o objetivo principal dos meus estudos), mas independente disso, esse acúmulo de danos e sinalizações aberrantes acabam resultando nas características marcantes da síndrome de Cockayne – e são características que se assemelham muito à um “envelhecimento acelerado”, em especial a neurodegeneração progressiva. Então acreditamos que o estudo dessa doença possa ajudar a entender biologicamente também o envelhecimento humano em si, assim como doenças neuronais associadas ao envelhecimento.”, frisa.
Importância da premiação
Para Gustavo, essa é uma grande conquista profissional, pois o prêmio Jovem Geneticista é a maior honra que a Sociedade Brasileira de Genética (SBG) dá a pesquisadores que estão no início de carreira. “Ser agraciado com uma menção honrosa é algo muito importante para mim. A SBG como um todo é uma associação importantíssima como sociedade científica no Brasil, em que são discutidos e celebrados os mais variados temas dentro da área de genética, como genética animal, de plantas, microbiologia, genética humana, ensino de genética”, conta.
Em entrevista, o pesquisador comenta que durante o congresso foram discutidos também, em um fórum, a área de ciências biológicas e a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior- CAPES, que de acordo com ele é uma instituição indispensável para a valorização da ciência no Brasil. “Acredito que instituições como a CAPES, e sociedades científicas como a SBG são importantíssimas para a continuidade e valorização da ciência, mas que prêmios, apesar de serem indicadores da qualidade do trabalho, não são os únicos indicadores, e que maior valorização deveria vir a todos os cientistas, pois fazer ciência no Brasil é uma tarefa árdua e muitas vezes pouco recompensada. Ainda assim, fiquei muito feliz em receber esse reconhecimento, e ver também outros trabalhos de alto nível, de várias áreas diferentes, sendo apresentados no congresso brasileiro de genética.”, ressalta.
Planos futuros
Gustavo lembra que inicialmente o projeto tinha outras abordagens, mas que em função da pandemia a pesquisa foi tomando rumos mais voltados para bioinformática, assim ele podia trabalhar de casa. “Por conta desse percurso, creio que não aproveitei tanto a UFOP quanto gostaria, pois meu ambiente de trabalho principal não foi o laboratório, mas tive grande proveito em reuniões remotas com colaboradores da instituição, e assim consegui aprender bastante sobre bioestatística e bioinformática, usando a linguagem de programação R. Certamente foram experiências diferentes do que eu havia tido.”, diz.
Devido a essa experiência, o pesquisador irá continuar a estudar usando ferramentas de bioinformática, e pretende aprender mais sobre neurociências em geral. Ele comenta que quer expandir seu conhecimento não só referente a síndrome específica de sua pesquisa, mas também outras que são de grande importância para a saúde pública. “O legado que eu gostaria de deixar aos outros pesquisadores brasileiros é um que demonstre a importância de certas vias, especialmente relacionadas à neuroinflamação, sobre o envelhecimento do cérebro. São vias que estudo desde meu doutorado, e que recorrentemente aparecem como estando relacionadas ao envelhecimento, e então creio que o melhor entendimento delas pode levar, eventualmente, a uma maior qualidade de vida, em especial nas pessoas mais velhas”, declara.
Gustavo finaliza agradecendo ao Núcleo de Pesquisas em Ciências Biológicas- NUPEB e ao Programa de Pós Graduação em Ciências Biológicas - CBIOL da UFOP pela oportunidade de realizar sua pesquisa e por viabilizar a ida ao Congresso.